“Juntos por um Ambiente com Futuro” foi o tema do 23º Encontro da Rede Valorpneu, que este ano reuniu na Madeira, nos dias 10 e 11 de novembro, stakeholders da rede Valorpneu e Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados (SIGPU) para debaterem temas impactantes para o sector e partilharem experiências, desafios e oportunidades para o futuro.
A sessão de trabalhos, que teve lugar dia 11 de manhã, teve início com Helder Pedro, gerente da Valorpneu, que relembrou que esta entidade implementou a gestão de resíduos na região autónoma da Madeira há 15 anos, altura em que realizou o primeiro encontro neste arquipélago.
Climénia Silva, Diretora Geral da Valorpneu fez um balanço de 2025 e falou dos principais desafios para o próximo ano, sublinhando que: “vamos continuar a inovar, apostar na investigação e desenvolvimento, na digitalização e vamos olhar para os processos de inteligência artificial (IA). Com isto, queremos agilizar o sistema, de forma a torná-lo mais colaborativo, com mais soluções para o mercado dos pneus usados”.
A responsável da entidade gestora destacou a importância da extensão da licença para 10 anos, substituindo os cinco anos habituais, o que permite uma maior visibilidade, tomar medidas mais estratégicas e assumir metas mais ambiciosas.
“Em 2025, mais uma vez, vamos cumprir todas as metas propostas, com uma taxa de recolha acima do objetivo de 96%. Este ano vamos recolher 93 000 toneladas de pneus, dos quais cerca de 12 360 toneladas vão para além do objetivo de recolha e são valorizadas energeticamente”, refere. Isto traduz-se em um benefício para o ambiente, com redução de 175 000 toneladas de emissões de gases efeito estufa e um consumo evitado e 5 200 Tj de energia.
O destino privilegiado continua a ser a reciclagem, seguindo-se a valorização energética e, com muito pouca expressão, a recauchutagem. Relativamente a este último destino, Climénia Silva alerta para a necessidade de serem tomadas medidas para o incentivar.
No que diz respeito ao destino da reciclagem, Climénia Silva sublinhou a importância do programa de inovação NextLap Tech Hub, promovido em parceria com a consultora de inovação Beta-i, que tem como objetivo promover novas soluções para os pneus usados, que está neste momento na sua 4ª edição.
A sessão de trabalhos contou ainda com convidados especiais da Região Autónoma da Madeira. Manuel Oliveira, Diretor Regional do Ambiente e Mar da Madeira, falou sobre a evolução da gestão de resíduos nos últimos anos no arquipélago. “Enquanto nos anos 90 os resíduos na Madeira eram enterrados ou queimados a céu aberto, atualmente apenas 1% são colocados em aterro sanitário sem qualquer tipo de valorização, um valor muito residual”. De acordo com este responsável, para este facto muito contribuiu a indústria da reciclagem. “Se no final do século existia na região um operador de gestão de resíduos, hoje são dezenas, cobrindo a totalidade dos resíduos, com principal destaque na área da construção civil e automóvel, quer pelas suas dimensões, quer pelos resíduos perigosos com que trabalham”, acrescenta. Manuel Oliveira destacou ainda as vantagens da utilização de borracha de pneus nos asfaltos da Madeira, sobretudo ao nível do ruído, da durabilidade e do impacto no desgaste dos veículos.

Seguiu-se uma intervenção de Amílcar Gonçalves, Presidente do Conselho de Administração da ARM – Águas e Resíduos da Madeira que fez uma breve explicação de como funciona o Sistema de Gestão de Resíduos da Madeira, com especial enfoque na valorização dos pneus usados. Apesar de o sistema estar a funcionar bem, existem ainda alguns desafios que se prendem com o facto de estarmos a falar de uma região insular. Amílcar Gonçalves lançou um desafio à Valorpneu relacionado com o transporte dos pneus usados de Porto Santo diretamente para o continente, sem ter de passar pela Madeira, diminuindo significativamente custos financeiros e ambientais. Este responsável falou-nos também de um novo destino dado aos pneus usados na Madeira que passa pela utilização de pneus inteiros em estruturas de contenção viária, uma solução que não é reciclagem, mas é uma reutilização digna de produtos que estão na região.
A sessão contou ainda com a mesa-redonda “Circularidade e Responsabilidade: O Presente e o Futuro da Gestão de Pneus Usados”, moderada por Sofia Arnaud (H Advisors CV&A). O debate reuniu Ana Cristina Carrola (Agência Portuguesa do Ambiente), Carla Pinto (Direção-Geral das Atividades Económicas), Rita Marques (Associação dos Recauchutadores de Portugal), Carina Freitas (Divisão de Gestão de Resíduos e Economia Circular da DRAM – Região Autónoma da Madeira) e Isabel Alves (Tecnovia Madeira). As intervenções abordaram os desafios e oportunidades da economia circular aplicada à gestão de pneus usados, sublinhando a importância da responsabilidade partilhada entre entidades públicas, operadores e produtores para garantir um sistema cada vez mais sustentável e eficiente.
O primeiro dia do Encontro da Rede foi dedicado ao convívio entre todos os participantes, que trocaram experiências e fizeram o balanço do ano, entre um passeio de teleférico e uma visita ao jardim do Monte Palace. O dia terminou com uma prova de vinhos Madeira na Blandy’s Wine Lodge e com um jantar convívio com direito ao “Bailinho da Madeira”.