Duas décadas de atividade em prol dos pneus usados e da sustentabilidade do planeta já são anos suficientes para provar a importância da Valorpneu enquanto entidade gestora de pneus usados em Portugal. Se há 20 anos as carcaças de pneus usados eram descartadas nas bermas das estradas ou enviadas para aterro, atualmente esses mesmo pneus são encaminhados para reciclagem, recauchutagem ou valorização energética, dando-lhe uma segunda vida, reintroduzindo-os na economia. Tudo isto graças à Valorpneu. Ao longo destes 20 anos, a Valorpneu tem cumprido os objetivos definidos nas suas licenças e muitas vezes ultrapassando alguns deles.
A celebração do 20º Aniversário da entidade gestora teve o seu ponto alto no Encontro Anual da Rede, que decorreu nos dias 22 e 23 de novembro, no Vidago Palace Hotel, em Chaves.
Durante dois dias, operadores da rede e outros stakeholders do sector puderam partilhar experiências e discutir alguns temas para potenciar o crescimento do Sistema de Gestão de Pneus Usados em Portugal (SGPU).
O primeiro dia foi de convívio entre os participantes, com uma visita por alguns locais emblemáticos de Chaves, como o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso e as Termas Romanas de Chave, terminando com um animado jantar.
No segundo dia decorreu uma sessão de trabalho que contou com algumas apresentações sobre a Valorpneu, intervenções institucionais e uma mesa redonda intitulada “Valorpneu: Há 20 anos a contribuir para um futuro sustentável”.
Das presenças institucionais fizeram parte a Direção Geral das Atividades Económicas (DGAE) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que elogiaram o trabalho da Valorpneu durante os seus 20 anos de atividade, o seu contributo para a sustentabilidade do SGPU e sublinharam o importante papel que entidade gestora vai assumir no futuro.
“A DGAE e a APA estão este ano a finalizar os trabalhos de revisão do novo quadro legal aplicável aos fluxos de resíduos abrangidos pela responsabilidade alargada do produtor e onde serão definidas as regras para a atribuição de novas licenças a partir de janeiro de 2024”. Esta informação foi adiantada por Fernanda Dias, Diretora Geral da DGAE, através de um vídeo, na impossibilidade de estar presencialmente no Encontro. Adiantando que neste contexto e “tendo em conta que estão a ser definidos os critérios de Ecomodelação, previstos no UNILEX, as entidades gestoras têm de considerar o Ecodesign no modelo de cálculo de valor das prestações financeiras”, “a prestação financeira (Ecovalor) a pagar pelos produtores será maior ou menor consoante demonstrem maiores ou menores preocupações de sustentabilidade ambiental e de economia circular”. “Estes critérios serão importantes na nova vaga de licenças”, afirmou Fernanda Dias, referindo que os pneus usados terão um papel preponderante e, consequentemente, a Valorpneu enquanto entidade gestora de pneus em Portugal, “irá desempenhar um papel essencial perante este desafiante quadro legislativo que irá entrar em vigor”.

Na sessão de abertura, e após enaltecer o contributo da Valorpneu e de todos os parceiros da rede, Ana Cristina Carrola, Vogal do Conselho Diretivo da APA, sublinhou que “o atual modelo de desenvolvimento económico não é sustentável e que por isso existem muitos desafios emergentes”.
Durante a apresentação da Valorpneu, Climénia Silva, Diretora Geral, começou por abordar os factos mais relevantes de 2022, que passam, entre outros, pela Guerra na Ucrânia, pelo agravamento das condições económicas, pela adaptação às alterações legislativas ocorridas em 2021, pela aplicação de novos critérios e normas, pelo reforço da operação no SGPU e pela aposta na prevenção, SC&E e na I&D.
Quanto a números, a responsável da Valorpneu, referiu que em 2022 vão ser recolhidos cerca de 86.600 toneladas de pneus usados, evitando a produção de 160.000 toneladas de emissões de CO2, o que leva a que mais uma vez a taxa de recolha esteja acima das suas obrigações, chegando aos 114%. As 72.700 toneladas de pneus recolhidos que estão dentro do objetivo da sua licença tiveram como destino a reciclagem (84,9%), a valorização energética (11,6%) e a recauchutagem (2,8%), sendo as restantes 13.900 toneladas encaminhadas para valorização energética.
No âmbito do 20º Encontro Anual da Rede foi ainda atribuído o Prémio de Centro de Receção de Pneus Usados, que este ano foi entregue a duas entidades, nomeadamente a Metais Jaime Dias, S.A. e a Benta&Benta Lda.
No final do Encontro decorreu ainda uma mesa redonda com a presença do Secretário-Geral da ACAP e Gerente da Valorpneu, Hélder Pedro, da Vogal do Conselho Diretivo da APA, Ana Cristina Carrola, do CEO Fedima Tyres, Carlos Marques e do Managing Partner da 3Drivers, consultores em modelos de negócio para a sustentabilidade, Eduardo Santos.
Hélder Pedro começou por fazer um balanço da atividade da entidade gestora durante estes 20 anos de existência e sublinhou o seu importante contributo para a economia circular. Para além disso, o gerente fundador da Valorpneu, falou também do novo conceito de mobilidade, exigido não só pela necessidade de descarbonização dos transportes, mas também pela mudança de hábitos de consumo.
“Os quatro drivers da indústria automóvel para a próxima década – eletrificação, conetividade, condução autónoma e novos hábitos de mobilidade partilhada (ex. car sharing) – trazem grandes desafios. A mobilidade é fundamental para desenvolver as sociedades, mas essa mobilidade tem de ser ainda mais sustentável”, referiu.
Questionado sobre o impacto destas mudanças de consumo na Valorpneu, Hélder Pedro relembra que a entidade gestora ao longo do seu percurso sempre teve como prioridade fomentar a economia circular e assim será no futuro, acrescentando que: “Estas novas formas de mobilidade irão continuar a produzir pneus, a colocar pneus no mercado, haverá pneus usados gerados e a Valorpneu cá estará para continuar a responder a esse desafio, sendo que a Valorpneu também fará parte dessa solução de contribuir para a economia circular e arranjar novas soluções para dentro do enquadramento nacional e comunitário dar novos destinos aos pneus usados e materiais que resultam dos mesmos. Isso é fundamental para a sociedade, para isso contamos também com o apoio das entidades públicas”.
Em conversa com a APA, surgiu a questão da atual revisão do UNILEX, resultante de um estudo para avaliar as alterações que são necessárias fazer à nova geração de licenças que aí vêm e criar recomendações a serem aplicadas. “Esta revisão vai no sentido de promover a economia circular em todas as áreas de resíduos”, adiantando que “a responsabilidade alargada do produtor vai ser mais exigente e com uma maior abrangência”, rematou.
“Cada fluxo de resíduo tem as suas especificidades e temos tido exemplos de excelente desempenho, apesar das novas licenças exigirem dar ‘um passo mais à frente’ e trazerem grandes desafios para potenciar a economia circular, criando mais valor, com menos impacto”, referiu a especialista da APA.
A nível da Valorpneu, Cristina Carrola adiantou que “o maior desafio será ao nível das regras de Ecomodelação, essencial nesta nova fase da economia circular, onde temos de subir acima da nossa hierarquia de resíduos, para um nível mais nobre, tendo em conta a prevenção e o prolongamento do nível de vida. Tudo isso tem de ser potenciado ao nível das novas licenças e indexado à possibilidade de o fazer a cada um dos fluxos de resíduos”, concluiu.
Este ano a Associação Florestal e Ambiental do Concelho de Chaves foi a instituição escolhida pela Valorpneu para a redução do impacto ambiental deste 20º Encontro da Rede.