Desmistificar alguns preconceitos que ainda existem no setor da recauchutagem e discutir formas de o potenciar, contribuindo de forma significativa para uma economia circular, foi o objetivo do ‘webinar’ “A Recauchutagem – Que Futuro?”, organizado pela Valorpneu e pela ANIRP, no dia 28 de setembro.
Durante a sessão de boas-vindas, Hélder Pedro, Gerente da Valorpneu, destacou a importância que a Valorpneu, enquanto Entidade Gestora do Sistema de Pneus Usados em Portugal, sempre deu aos recauchutadores nacionais, “contribuindo assim para a economia circular, um dos nossos grandes objetivos”.
A recauchutagem é a operação pela qual um pneu já utilizado, após cumprir o seu ciclo de vida, é reconstruído de modo a permitir uma nova utilização para o mesmo fim para o qual foi projetado. Apesar de ser uma atividade existente em Portugal há aproximadamente 60 anos, com circuitos comerciais muito bem definidos, tem ainda um grande potencial por descobrir, com grandes vantagens para o setor e para a tão desejada economia circular.
Entre os grandes números que importam sublinhar são recauchutados anualmente mais de 340.000 pneus em Portugal. Este sector representa um volume de negócio de cerca de 40 milhões de euros, contribuindo para PIB nacional, e emprega diretamente 400 pessoas.
Após a apresentação de um filme, onde foi apresentado o processo da recauchutagem, explicando as várias fases que o pneu tem de passar até ganhar uma nova vida, e alguns testemunhos de recauchutadores nacionais, Eduardo Santos, da Consultora 3Drivers, apresentou os resultados do estudo “Caracterização da Atividade de Recauchutagem em Portugal”. Numa primeira fase foi feita a recolha e avaliação da informação disponível sobre o setor, a nível nacional e a nível internacional, tendo como base o sistema de gestão de pneus usados e comparando o funcionamento do sistema em Portugal relativamente a outros países. Numa segunda fase foram realizadas entrevistas junto do setor, para recolher perspetivas dos diferentes agentes: um conjunto de recauchutadores, empresas produtoras de pneus, empresas de distribuição e transportadores e também os centros de receção da Valorpneu. De acordo com o autor do estudo: “Tentámos identificar oportunidades de melhoria e propor soluções para o desenvolvimento do setor”.
Entre as várias conclusões do estudo, destaque para o facto de “Portugal continuar a ser um dos países com o mercado de recauchutagem mais desenvolvido, com uma taxa de recauchutagem mais de duas vezes superior à média europeia. A operação de recauchutagem de pneus é contabilizada nas metas nacionais de gestão de resíduos, inserida na licença da Valorpneu, de forma autónoma até 2017 ou conjugada com a reciclagem, como acontece atualmente”.

Eduardo Santos relembra também que: “Avizinham-se tempos desafiantes para o setor, mas principalmente tempos de oportunidade marcados por uma nova consciência sobre as ameaças ambientais que enfrentamos, mas também pelas respostas que podem ser dadas pelas empresas do setor, pelas entidades públicas e pela sociedade civil”. Acrescentando que: “Apesar das limitações e constrangimentos, a perspetiva da maioria dos agentes económicos é que nos próximos anos o mercado da recauchutagem estabilize, principalmente pelo efeito das medidas anti-dumping da UE e da aplicação de metas legais de valorização de materiais”.
O estudo revela ainda que: “Os recauchutadores, individualmente e através das suas organizações setoriais, têm um papel central no crescimento do setor no futuro, nomeadamente ao nível da implementação da investigação e desenvolvimento, no desenvolvimento de novos produtos, na promoção dos modelos de negócio mais voltados para o serviço, no investimento em tecnologias de diagnóstico e fabrico mais flexíveis e eficientes e na aposta em recursos humanos altamente qualificados”.
“Apesar das dificuldades, a atividade de recauchutagem mantém-se consolidada e resiliente, nos seus mais de 70 anos de vida, e é corporizada por um setor dinâmico, exportador, e cujos produtos e serviços são uma mais-valia ambiental e económica”, conclui o estudo.
O ‘webinar’ seguiu com uma “mesa redonda” onde participaram Rita Marques, Membro da Direção da ANIRP; Ana Cristina Carrola, Vogal do Conselho Diretivo da APA; Carla Pinto, Diretora de Serviços de Sustentabilidade Empresarial da DGAE; Armando Mendes, Técnico Superior no IAPMEI e Paulo Silva, Responsável de Logística de Transporte e Valorização de Pneus Usados da Valorpneu, que discutiram o futuro do setor da recauchutagem em Portugal.
Rita Marques destacou as vantagens ambientais e económicas na utilização de um pneu recauchutado. “Sempre que recauchutamos um pneu por duas vezes, estamos a poupar 160 kgs de resíduos e 100 kgs de matéria. O pneu recauchutado é fiável e amigo do ambiente”, refere a responsável da ANIRP.
Armando Mendes explicou que: “A recauchutagem é uma atividade industrial muito pouco comum para materiais em fim de vida, mas muito importante ao nível económico, ambiental e até ao nível dos postos de trabalho. Atualmente, em todo o mundo, a recauchutagem emprega cerca de 30 mil pessoas”.
O Técnico Superior do IAPMEI falou ainda sobre o novo regulamento da rotulagem de pneus, com a obrigatoriedade de uma nova etiqueta informativa com as principais características dos pneus e da não inclusão de forma clara dos pneus recauchutados nesta diretiva.
Ana Cristina Carrola começou por destacar o contributo do microsite Recauchutagem, promovido pela Valorneu, para desmistificar estigmas, assim como a aplicação dos critérios ambientais e incentivos que diferenciam os produtores e pneus em função do impacto ambiental dos pneus usados e do seu custo de gestão. “Iniciativas estas que estão perfeitamente alinhadas com as políticas atuais e que estimulam esta transição necessária para a economia circular”.
Sobre incentivos à atividade de recauchutagem e à utilização de pneus usados, Ana Cristina Carrola afirmou que: “No âmbito do PT2030, os projetos de suporte para a transição da economia circular e que contribuam para a neutralidade carbónica serão com certeza uma prioridade e virão a beneficiar de apoios financeiros relevantes”. Apesar do quadro financeiro plurianual (2021-2027) se encontrar ainda em preparação, a vogal do conselho diretivo da APA avançou que “existirão oportunidades para o setor”.
Também a diretora da DGAE felicitou a Valorpneu pelo trabalho que tem desenvolvido em prol deste setor e no cumprimento dos indicadores de gestão da sua atividade, de acordo com a licença em vigor.
No que diz respeito a medidas para alavancar a atividade de recauchutagem, Carla Pinto destacou a consciencialização ambiental cada vez mais notória nos consumidores e a importância de continuar a promover ações de comunicação e sensibilização para a recauchutagem em prol do ambiente e da economia circular, sem prejuízo de afetar a qualidade do produto final.
Pelo lado da Valorpneu, Paulo Silva explicou de que forma a Valorpneu tem promovido a atividade da recauchutagem em Portugal desde o início da sua atividade, enumerando diversas ações, de que são exemplo, a promoção da adesão de todos os operadores existentes, “conseguindo já há uns anos a esta parte a integração da totalidade do recauchutadores”; o desenvolvimento de um formulário próprio para o recauchutador registar toda a informação; a criação da placa “Recauchutador Aderente”; ações várias de comunicação e sensibilização; campanhas publicitárias; patrocínios a eventos do setor; lançamento do microsite Recauchutagem; isenção de pagamento de ecovalor aos pneus fabricados pelos recauchutadores nacionais e realizações de eventos para debater este tema, que este webinar é mais um exemplo.
Paulo Silva destacou ainda a importância do papel dos fabricantes de pneus novos no processo de recauchutagem, ressalvando que “grande parte dos principais fabricantes são também recauchutadores dos seus próprios pneus. “Muitos destes fabricantes estão a publicitar a intenção de fabricar pneus novos com 4 vidas”, sublinha.
Joaquim Seiça, presidente da ANIRP, fez o encerramento do ‘webinar’, referindo que: “Os pneus recauchutados deverão caminhar lado a lado com o setor automóvel na descarbonização do planeta”. “Com a consciencialização das vantagens de utilização de pneus recauchutados como parte integrante de um programa de sustentabilidade ambiental nacional, juntamente com a rentabilidade financeira das frotas públicas ou privadas e do consumidor final, associado a todos os benefícios que já foram referidos, como a segurança, a durabilidade e a fiabilidade, a indústria da recauchutagem poderá ter um grande desenvolvimento nos próximos anos”, prevê o presidente da ANIRP. Concluindo ainda que: “Um pneu recauchutado é seguro, económico e amigo do ambiente, e só isto basta para que a nossa indústria seja uma indústria de futuro!

O estudo completo “Caracterização da Atividade de Recauchutagem em Portugal” está disponível aqui.

Poderá assistir ao webinar em https://www.youtube.com/watch?v=Gg9KIW2ko2k